Aumento do IPI é recado de Dilma para agências de classificação de risco
O aumento das alíquotas de IPI foi um recado claro do governo para as agências de classificação de risco: não rebaixem a nota brasileira em pleno ano eleitoral, porque seremos mais responsáveis e cortaremos gastos.
Mas a equação econômica sobre a mesa de Dilma Rousseff não é simples. Ao mesmo tempo em que precisa reconquistar a confiança dos mercados, a presidente tem que dosar o remédio, pois não pode comprometer o crescimento da economia em 2014, previsto em modestos 2%.
A recomposição gradual do IPI para os automóveis vai nessa direção. A medida, que representa R$ 1 bilhão a mais de arrecadação, é bastante cautelosa. Para carros populares, por exemplo, o IPI vai subir um ponto percentual nos primeiros seis meses.
Se o governo não interromper a subida das alíquotas, o efeito na arrecadação pode ser significativo. Dos R$ 70,4 bilhões em desonerações realizadas de janeiro a novembro deste ano, R$ 10,88 bilhões vieram do IPI.
“A medida é correta e ameniza o quadro, mas veio tarde e está longe de resolver a situação”, disse Felipe Salto, economista da Tendências.
Ele calcula que o superavit primário efetivo (economia do setor público para pagar os juros da dívida) esteja em um terço da meta.
Melhorar o resultado fiscal é urgente, mas a recomposição do IPI dos automóveis precisa ser gradual.
Mais impostos vão significar reajustes dos carros, que não chegam em boa hora.
Com estoques elevados, o setor automotivo enfrenta queda nas vendas no Brasil, em razão do maior endividamento da população e da perspectiva de volumes menores para a Argentina, que vai reduzir suas importações.
Diante de um quadro tão complexo e da óbvia dificuldade de cortar gastos em ano de eleições, não será fácil para Dilma convencer as agências de risco de que a política fiscal realmente mudou.
Fonte: Folha de São Paulo