Tramontina defende menos burocracia para tributação
Empresário, que reuniu-se com Dilma Rousseff nesta quinta-feira, disse que não há espaço para aumento de impostos para a indústria
Em meio à discussão sobre o retorno da CPMF para aumentar o financiamento da saúde e à sinalização de integrantes da equipe econômica de que serão considerados “possíveis ajustes em alguns impostos”, o presidente da Tramontina, Clóvis Tramontina, avaliou, nesta quinta-feira, que não há mais espaço para aumento de impostos para a indústria no Brasil. O empresário propõe uma simplificação com menos burocracia na cobrança de tributos.
O empresário se reuniu, na tarde desta quinta-feira, com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, acompanhou a conversa com Dilma. De acordo com ele, a visita foi apenas para cumprimentar a presidente e desejar-lhe um bom ano. Tramontina afirmou que não conversou sobre a intenção do governo de promover ajustes fiscais e nem mesmo sobre o possível aumento de impostos.
Porém, questionado sobre sua opinião pessoal sobre o tema, Tramontina avaliou que a indústria não comporta novos aumentos. “Acho que não tem mais espaço para isso (aumento de impostos). A carga tributária tem que ser feita de uma forma mais simples, descomplicada. Tem muita burocracia neste aspecto. Se a gente pensar do lado do empresário, queremos menos impostos. Se pensarmos do lado do governo, ele quer mais impostos. Então, vamos pelo menos simplificar a burocracia que será melhor para todos”, respondeu.
No dia em que assumiu o Ministério da Fazenda, na semana passada, o ministro Joaquim Levy indicou que os impostos deverão subir no País, mas não detalhou em quais setores isso deve acontecer. Há especulações de que devem ser elevadas as contribuições incidentes sobre a gasolina e outros combustíveis.
Apesar de afirmar que não há espaço para aumento de impostos, Tramontina disse que não reclama da atual carga tributária. Questionado se é o único empresário do País que não faz tal reclamação, ele respondeu: “e adianta?”.
O empresário defendeu ainda um aumento de investimento na produtividade do País e disse que Dilma está preocupada em melhorar a infraestrutura no Brasil. “Temos que investir mais na produtividade em termos de melhorar os processos. Acho que esse é um trabalho grande que estamos fazendo. E outra coisa que a presidente está preocupada é em melhorar a infraestrutura do País para que as coisas possam fluir mais facilmente e com custos mais baixos. Isso tem mais importância que o impostos”, disse.
Apesar do cenário de ajuste fiscal na economia, com a perspectiva de um baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, Tramontina demonstrou otimismo com o desempenho do setor neste ano. Segundo ele, o faturamento da empresa cresceu 13% no Brasil e, considerando os negócios no exterior, o aumento chegou a 17%. O empresário confirmou que a unidade fabril de Moreno (PE) deve ficar pronta no final deste ano. A projeção para 2015 é de que todo o grupo cresça 13%.
“Entendo que o nosso tipo de produto, que é um produto que quase independe de financiamento, dificilmente vai entrar em crise. O único medo que tenho é se houver desemprego. Como não acredito em desemprego, acho que vamos progredir em 2015. Muita gente acha que sou otimista, mas prefiro ver o copo meio cheio do que meio vazio”, disse Tramontina, recorrendo a uma das mais emblemáticas falas de Dilma para criticar os “pessimistas” com os rumos do Brasil.
O empresário contou ainda detalhes sobre a conversa com Dilma Rousseff e disse que a convidou para fazer uma visita à sede da empresa, em Carlos Barbosa, cidade localizada na Serra gaúcha. “Ela disse que agora vai lá”, afirmou.
Tramontina presenteou Dilma com um exemplar do livro de autoajuda “Mais esperto que o diabo”, de Napoleon Hill, que foi assessor dos presidentes americanos Woodrow Wilson e Franklin Delano Roosevelt. O livro, que foi lançado em 1938, trata da “liberdade e do sucesso”, e já teve mais de 100 milhões de cópias vendidas no mundo inteiro. Questionado se o PMDB seria um dos “diabos” que a presidente Dilma teria de lidar, o empresário riu. “Não sei. Isso é tu que está dizendo”, respondeu. “Ganhei esse livro de Natal. Li e achei espetacular.”
O empresário contou ainda que, durante a conversa com Dilma, perguntou a ela como é administrar um país como o Brasil. “E ela me disse: ‘Clóvis, resolver tudo não dá. Você tem que resolver um problema por vez. Aí, eles viram pequenos.’ Vai ser um ano mais duro, mas ela está mais otimista com o Brasil.”
Fonte: Jornal do Comércio