Efeito sazonal da produção agrícola gera aumento de emprego em maio

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho apontou saldo positivo na criação de postos de trabalho em maio, influenciado pela atividade sazonal agrícola. Os números, no entanto, não refletem recuperação real dos setores e da produtividade.

Em maio último foram gerados 34.353 postos de emprego, resultado de 1,242 milhão de admissões ante 1,208 milhão de demissões. A sazonalidade predominante sobre a geração de empregos foi a do bom momento do setor agrícola, que passa por uma safra recorde em 2017. Foram cerca de 46 mil postos criados na agricultura em maio, sendo mais de 120 mil admissões e 74 mil desligamentos.

“O agronegócio vem se comportando de uma maneira interessante, com números bons. Mas é algo mais sazonal pela época boa das colheitas, e o aumento é reflexo disso. O setor reflete a pujança da agricultura brasileira. Independentemente disso, existe um crescimento consistente, mesmo se tratando de commodities”, explica o diretor-presidente do Instituto de Pesquisa de Mercado Fractal, Celso Grisi.

O aspecto pontual causador do saldo positivos de empregos, pelo segundo mês consecutivo e pela terceira vez no ano, pode afastar a ideia de uma retomada devida na geração de postos e na produção nacional.

Na indústria de transformação, setor que costumava ter altos índices de geração de empregos, a alta de 0,02% no mês foi puxada de pela indústria química e de produtos farmacêuticos, que criou 4,8 mil vagas, e pela indústria de produção de alimentos e bebidas, que empregou quase 60 mil pessoas no mês e criou mais de 7 mil novos postos.

“Acredito que seja uma questão mais conjuntural, e com isso podemos afirmar que o número geral para o mês não reflete um movimento mais estrutural. Vemos a recuperação da indústria, mas não em setores que demonstram um consumo mais disseminado, e sim nos de necessidades básicas das pessoas, que costumam se recuperar mais rapidamente”, avalia economista e professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Mauro Rochlin.

Nos outros setores da indústria, houve uma leve queda quase generalizada, com exceção de têxtil e vestuário e materiais de transporte. Entre os destaques negativos, a indústria de papel e papelão, com queda de 0,18% no mês, demitindo 279 pessoas a mais do que o contratado. “A baixa na indústria de papel e papelão é um mau sinalizador, porque ela é um termômetro de toda a indústria, um indicador antecedente, mostra como outros setores irão se comportar, por ser responsável por embalagens”, diz Rochlin.

Na área de construção civil, foi verificada uma queda de 0,18% com o fim de 4.021 postos. “A construção civil está muito impactada pela recessão e pelas dificuldades que as construtoras andaram passando nesses últimos tempos”, analisa a economista-chefe da Coface, Patrícia Krause.

A geração de emprego no setor de comércio teve retração de 0,13% no mês de maio, com a perda de 11,25 mil postos de trabalho. Já em serviços, o Caged mostrou estabilidade, com o pequeno aumento de 0,01%, responsável por quase 2 mil novos empregos.

No acumulado dos últimos 12 meses, em todos os setores do País, os dados apontados pelo Ministério do Trabalho ainda apontam retração: fechamento de mais de 853 mil postos de trabalho, baixa de 2,18%. De janeiro para maio, no entanto, o aumento de 0,13% na geração de empregos é destacado. “Eu esperava uma recuperação de empregos só no segundo semestre. Não era esperada essa reação do mercado formal tão cedo, ela estava programada para depois. Mas os números ainda são ambíguos”, continua Rochlin.

Empregos por região

Em maio, a região do País que apresentou a queda mais acentuada foi o Sul, puxada, principalmente, pelo Rio Grande do Sul, que perdeu mais de 12 mil postos de trabalho no mês. “O Rio Grande do Sul acabou sofrendo com empregos por causa do desequilíbrio fiscal do estado. Algo similar ao que ocorre no Rio de Janeiro”, pondera Celso Grisi.

No sudeste, o estado fluminense foi o único que mostrou números negativos: menos 5,5 mil empregados, registrando uma retração de 0,16%. Já São Paulo registrou crescimento modesto de 0,14%, demonstrando ainda a “timidez” do setor industrial de grande concentração no estado.

Investimentos por setor

A respeito do investimento capaz de gerar emprego, a crise política e a indecisão a respeito das reformas ainda pode funcionar como uma barreira. “Só entra capital no Brasil para adquirir ativos que estão com um preço convidativo. Hoje, a produtividade está com o baixo nível de demanda e emprego. Para reverter isso, o País tem que mudar institucionalmente, e aí entra é que entram as reformas”, opina Celso Grisi. “A crise política contribuiu para o adiamento de uma recuperação forte, além de atrasar decisões de investimento e a criação de mais postos, complementa Mauro Rochlin.

Gabriel Proiete de Souza

Fonte: DCI