Após 3 anos, varejo abriu mais lojas do que fechou
Neste ano, pela primeira vez desde o início da crise, o varejo abriu mais lojas do que fechou no País. Até outubro, entre abertura e fechamento de pontos de venda, 6 mil unidades foram inauguradas e a expectativa do setor é que o ano termine com um saldo de 7 mil novos estabelecimentos.
Os números demonstram uma retomada do varejo, ainda que lenta e insuficiente para compensar o estrago dos anos de recessão. Entre 2015 e 2017, 223 mil lojas fecharam as portas.
A greve dos caminhoneiros, em maio, e a corrida eleitoral, no segundo semestre, abalaram a confiança de empresários e consumidores e tornaram mais lenta a retomada de todos os setores da economia, incluindo o varejo. A definição das eleições, segundo Bentes, melhorou as perspectivas.
O empresário Sergio Zimerman, presidente da varejista Petz, que vende produtos para animais de estimação, atribui a expansão da rede ao sucesso de seu modelo de negócio e à troca de governo.
“Se as coisas não estivessem caminhado nessa direção, eu estaria preocupado”, disse. A Petz abriu 18 novos pontos de venda em 2018.
O último foi inaugurado ontem em São Paulo. Zimerman gastou R$ 100 milhões em expansão neste ano e pretende desembolsar o dobro no ano que vem, com 34 novas lojas.
A mudança de humor dos empresários, principalmente após as eleições, ficou evidente para Daniel Garcia, sócio-diretor do estúdio Jacarandá, um escritório de arquitetura especializado em varejo.
“A aceleração dos projetos de novas lojas ocorreu no segundo semestre.” Seu escritório deve fechar o ano com 165 projetos – 57% mais que em 2017.
Para 2019, Garcia tem 250 novas lojas na prancheta. Para dar conta do aumento de volume de trabalho, o arquiteto já ampliou em 30% o número de funcionários e vai dobrar o tamanho do escritório no ano que vem.
Segundo Bentes, da CNC, existe uma defasagem de ao menos seis meses entre o desempenho das vendas e as decisões de investimentos.
Assim, a retomada vista neste ano reflete o crescimento de 4% do varejo no ano passado e de 5,3% até outubro.
Com o início de um novo ciclo de crescimento econômico que se desenha, a expectativa para o ano que vem é de que o saldo de novas lojas mais que dobre em relação ao resultado deste ano.
Nos cálculos da Confederação Nacional do Comércio (CNC), entre aberturas e fechamentos, até 15 mil novos pontos de venda devem entrar em operação em 2019.
Essa maior disposição para ampliar o próprio negócio é confirmada pelo Ibope Inteligência. A consultoria registrou neste ano, especialmente a partir do segundo semestre, crescimento de 67% na procura por pesquisas que identifiquem os melhores mercados e os pontos com maior potencial de faturamento para decidir onde as novas lojas serão abertas.
“Temos a impressão de que os empresários do varejo vão pisar no acelerador”, diz Fábio Caldas, diretor de shoppings e varejo do Ibope.
Além do aumento da demanda por estudos de geolocalização das lojas, Caldas aponta que o aquecimento do varejo é nítido. E isso sustenta, na sua opinião, a retomada dos investimentos em expansão.
Em novembro, pelo quarto mês seguido, o fluxo de consumidores nos shoppings cresceu 2,1% em relação ao mesmo período do ano passado, depois de ter ficado no vermelho entre maio e julho. Os dados são do Iflux, indicador apurado pela consultoria em parceria com a Mais Fluxo.
Outro fator que impulsiona as decisões de investimento neste momento são as despesas do setor, que ainda continuam num patamar mais baixo, como os aluguéis comerciais.
“Para os varejistas que estão com capital, a oportunidade é agora”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun, vislumbrando o crescimento mais forte da economia em 2019.
Devido ao grande volume de espaços vagos nos shoppings, a negociações estão mais favoráveis aos lojistas. É possível obter descontos na locação e prazos maiores de carência, explica Sahyoun.
A redução dos despesas para abrir novas lojas é confirmada pelo diretor geral da rede de lanchonetes Bob’s, Marcelo Farrel. “O aluguel teve uma redução importante e também há uma oferta maior de mão de obra”, acrescenta o executivo.
Ele lembra que, anos atrás, quando a economia estava a todo vapor, esses gastos estavam tão altos que acabavam por limitar a expansão.
Em 2018, o Bob’s abriu 75 lojas, 15 a mais do que o ano anterior. Na semana passada, foram inaugurados seis pontos de venda numa tacada só.
A grande concentração de aberturas ocorreu para aproveitar o bom momento de vendas da virada do ano, explica o executivo. Para 2019, estão previstos, entre franquias e lojas próprias, 100 novos pontos de vendas da marca, com investimentos que somam R$ 200 milhões.
O Habib’s também está otimista com a expansão. “No mercado de fast-food, o importante é chegar antes do concorrente”, diz Mauro Saraiva, presidente do Grupo Habib’s.
O plano do Grupo, que reúne as bandeiras Habib’s, Ragazzo, Complexo H e Tendall Grill, é inaugurar 125 pontos de venda no ano que vem. 2019 será o maior ano de expansão do Grupo, com investimentos de R$ 100 milhões, considerando aportes de franqueados e próprios.
Neste ano, foram abertas 75 lojas, que absorveram R$ 60 milhões. Além do mercado imobiliário e da conjuntura, ambos favoráveis à expansão, Saraiva ressalta que o Grupo criou um formato de loja menor, o que facilita o crescimento rapidamente.
Fonte: Diário do Comércio