Um mês de trabalho só para o Leão

Cálculo refere-se a quem ganha R$ 5 mil. Quanto maior o salário, mais dias são necessários

Abdo Filho

Quem recebe R$ 5 mil mensais teve de trabalhar, em 2012, 27 dias só para pagar os R$ 4.412,76 de Imposto de Renda. Os que ganham um pouco mais, R$ 10 mil, e pagaram R$ 21.470,54 de IR no ano passado, precisaram de trabalhar mais de dois meses, 65 dias para ser mais exato, para saciarem a fome do Leão. Os cálculos são do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT).

A “mordida” varia de acordo com a faixa de renda. Quanto maior é o salário, maior é o valor retido e maior a quantidade de dias trabalhados por ano para pagar o IR. Quem recebe, por exemplo, R$ 3,5 mil por mês, terá trabalhado 10 dias no ano só para acertar as contas com a Receita. Enquanto que para quem recebeu um salário de R$ 6 mil, foram 39 dias trabalhados para quitar o IR.

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O cálculo do IBPT refere-se ao valor de Imposto de Renda retido na fonte pagadora, levando em consideração as diferentes faixas de tributação e não inclui eventual restituição. A metodologia adotada nas simulações avaliou o peso do IR para contribuintes assalariados, com dois dependentes e renda anual a partir de R$ 30 mil. Não foram utilizadas rendas mensais menores porque estas estão isentas de IR de acordo com o cálculo na tabela regressiva.

Pelas regras, estão obrigadas a apresentar a declaração neste ano as pessoas físicas que receberam rendimentos tributáveis superiores a R$ 24.556,65 em 2012. As alíquotas variam de 7,5% a 27,5% e existem apenas quatro faixas. A alíquota mais alta atinge todas as rendas acima de R$ 4.087,65.

“O governo deveria desonerar um pouco mais as faixas das pessoas que ganham menos e onerar quem ganha mais progressivamente. Isso seria uma forma de distribuição de renda e de tributação mais justa”, opina João Eloi Olenike, presidente do IBPT.

Como vem descontado no contracheque, o IR é um dos impostos que mais incomodam. Olenike, lembra, entretanto, que este não é o imposto que mais pesa no bolso do brasileiro. “O imposto sobre a renda não é o principal tributo do país em termos de arrecadação. Temos uma tributação muito forte no consumo, ao contrário do que o que acontece no exterior, onde é o lucro e o patrimônio que são bem tributados”.

Segundo o IBPT, em 2012 o brasileiro destinou, em média, 40,98% do seu rendimento bruto para pagar impostos, sendo que os tributos sobre o consumo (ICMS, PIS, Cofins, IPI, ISS) ficaram com um percentual correspondente a 23,24% da renda. Já a tributação sobre o rendimento, que inclui o IR, “comeu” 14,72% da renda do brasileiro no ano passado. Aquela sobre o patrimônio, incluindo IPTU e IPVA, respondeu por 3,02%.

Para o IBPT, a tributação sobre o lucro e o patrimônio é mais justa. “O IR está entre os impostos mais justos porque é progressivo. Quanto mais você ganha, quanto maior a renda, mais você paga. Mas deveriam existir mais faixas de tributação, porque hoje não importa se você ganha R$ 10 mil ou R$ 100 mil, a alíquota mais alta é a mesma, de 27,5%”.

É importante destacar que, somados todos os impostos, o brasileiro trabalha quase 5 meses por ano só para pagar tributos. Pelos cálculos do IBPT, cada brasileiro pagou, em média, R$ 8.230,31 em impostos em 2012. Com isso, cada contribuinte trabalhou, em média, 150 dias (4 meses e 29 dias), um dia a mais do que em 2011, só para pagar impostos, taxas e contribuições às três esferas de poder: federal, estadual e municipal.

Fonte: A Gazeta