PE: Apesar da diminuição do ICMS, motoristas criticam preço do etanol
Quem precisa abastecer o carro com álcool levou um susto nos meses de janeiro e fevereiro. Desde o primeiro mês do ano, os motoristas têm observado a alta lenta nos preços do combustível, mesmo com a determinação estadual de diminuição da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do etanol, de 25% para 23%. A medida passou a valer a partir de 1º de janeiro, mas tem sido questionada por quem optava pelo etanol para fugir dos altos preços da gasolina e, agora, mesmo com a queda de 2% no imposto, não encontra preços tão vantajosos.
De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a média do preço do etanol feita a partir da pesquisa em 21 postos na capital pernambucana de 27 de dezembro a 2 de janeiro foi de R$ 2,75. Na semana seguinte, o valor médio subiu para R$ R$ 2,77. Na outra semana, R$ 2,80 e, nos primeiros dias de fevereiro, o número saltou para R$ 2,96. Os mais de R$ 0,20 de diferença entre as médias dos dois meses podem parecer inofensivos, mas têm assustado os consumidores.
“O revendedor do meu carro recomendou abastecer com álcool e é o que eu geralmente faço, mas se dependesse do preço, eu iria dividir com gasolina. Mesmo com esse ajuste, eu não entendi o motivo do álcool ter subido tanto”, questiona a bancária Mari Santos.
Na semana entre 7 e 13 de fevereiro, a ANP registrou uma média de preços de R$ 2,96. O valor do combustível variou entre R$ 2,74, no bairro da Guabiraba, na Zona Norte, a R$ 3,19, num estabelecimento na Imbiribeira, Zona Sul do Recife.
A aposentada Maria Cecília Rocha também acha inviável abastecer o carro com álcool devido aos preços e prefere a gasolina, apesar de a alíquota do ICMS ter passado dos 27% para os 29% a partir de 1º de janeiro. “A diferença em relação à gasolina não é tão importante quando a gente compara o rendimento dos dois combustíveis”, comenta a motorista. “Está tudo caro. Seja álcool, gasolina, ou outro combustível. O jeito é a gente andar de ônibus”, reclama.
Segundo o presidente do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis e Lojas de Conveniência de Pernambuco (Sindicombustíveis-PE), Alfredo Pinheiro, a seca foi o principal fator responsável pelo prejuízo ao setor sucroalcooleiro e, consequentemente, pela alta no preço do etanol.
“A maioria das usinas da Zona da Mata Norte teve queda de 30% na safra. Caso não houvesse essa redução na alíquota do ICMS, os preços seriam ainda maiores. Quem sofre com isso somos nós, que estamos vendendo diretamente ao consumidor, e o próprio motorista, que precisa arcar com os custos”, comenta Pinheiro.
De acordo com Fernando Cavalcante, dono de um posto em Santo Amaro, no Centro, a reclamação é geral. No estabelecimento, o litro do etanol custa R$ 2,99, valor praticamente padrão entre os postos da capital pernambucana nos últimos dias. “O último cliente que saiu daqui colocou R$ 50 de álcool e reclamou porque só rendeu 16 litros. Eles reclamam, mas a gente que vende sofre também. Esses impostos são muito altos”, pontua. Números da nota fiscal do consumidor indicam que, dos R$ 50, R$ 9,35 são de impostos federais e R$ 13,50 são referentes a impostos estaduais.
Para o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, a alta no preço do etanol é provocada pela proibição da criação de estoques em distribuidoras. “As distribuidoras não fazem estoques nem investem na compra do etanol para evitar alterações de preços no mercado. O preço seria mais acessível ao consumidor se a usina também pudesse vender diretamente ao posto, que é o canal final de distribuição”, pontua.
Vantagens
Além de apontar as distribuidoras como um dos motivos para o encarecimento do etanol, Cunha também critica a competitividade do preço do álcool em função da gasolina e dos derivados do petróleo. “O etanol é um combustível limpo, capaz de gerar empregos e, depois dos constantes aumentos da gasolina, passou a ser a grande vedete”, comenta o presidente do Sindaçúcar. “As leis estaduais para o consumidor não usar etanol se o preço for superior a 70% do preço da gasolina considera apenas a questão econômica e esquece do viés ambiental”, explica.
Para alguns motoristas, o álcool é escolhido devido ao menor desgaste mecânico dos veículos. É o caso do taxista Marcel Victor, um dos poucos da frota do Recife que utilizam o etanol. “Tenho 19 anos de praça e acho que o álcool é uma boa escolha para o táxi, porque a parte mecânica não é tão prejudicada como quando eu abasteço com gasolina. Isso sem falar no preço”, explica.
Apesar dos benefícios ambientais, o preço mais baixo em alguns postos é o que pesa na hora da escolha do álcool. Em locais onde o valor do litro do álcool é inferior a R$ 2,99, a pedida dos motoristas é certeira.
“O pessoal tem pedido mais álcool porque, em relação à gasolina, o preço está um pouco melhor”, explica Carlos Antônio Belarmino, chefe de pista de um posto de combustíveis em Santo Amaro.
“Na hora de pagar, não tem quem faça o consumidor mudar de ideia”, brinca Belarmino. Mesmo representando 75,66% do preço do litro da gasolina no estabelecimento em que trabalha, o profissional explica que, apesar do rendimento inferior ao derivado do petróleo, o etanol tem sido escolhido sobretudo pelo quesito economia.
Fonte: G1