Economia fraca frustra planos das empresas

Empresários de diferentes segmentos estão reavaliando suas estratégias diante das frustrações com o desempenho da economia nesse início de ano. A atividade econômica esfria desde o final de 2018, a inflação voltou a subir, o desemprego é crescente e a massa salarial não evolui em nível suficiente para aquecer o consumo.

A avaliação de empresários presentes à reunião do Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), coordenado pelo vice-presidente Edy Kogut, realizada nesta quinta-feira (25/4), é de que, embora tenha havido uma expectativa muito grande em relação às mudanças anunciadas pelo novo governo, a implantação das propostas se mostra mais lenta do que o esperado.

O varejo, que é dependente do poder de compra do consumidor para crescer, avançou 2,3% nos últimos 12 meses terminados em fevereiro. O desempenho do setor está ancorado ao aumento da massa salarial, que em igual período avançou 2% -pouco, considerando a inflação.

Além disso, os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que dos 43 mil empregos perdidos em março, 28 mil postos foram fechados no comércio.

Para um representante do setor, não há perspectiva de melhora. Ele contou que shoppings estão adiando suas inaugurações porque empresas pequenas não conseguem realizar as obras de instalação dentro do prazo por estarem descapitalizadas.

O varejo de materiais de construção passa por uma situação ainda mais complicada. Segundo um representante do segmento, com a baixa demanda, atacadistas e varejistas não estão repassando os aumentos de custos para os preços.

Citou, como exemplo, cimento e itens de acabamento, como pisos, cujos preços não são reajustados.

O setor da construção como um todo enfrenta problema. Sem obras de infraestrutura previstas para o curto e médio prazo, a indústria de base reduziu a produção. Na outra ponta, no varejo, as vendas estão travadas pelo consumo fraco.

O representante do setor destacou um anúncio do atual governo que gerou grande preocupação: o fim do programa Minha Casa Minha Vida, que ajudou a movimentar o mercado da construção nos últimos governos.

Os investimentos em grandes obras estão travados porque o governo tenta equilibrar as contas. Há previsão de concessões para infraestrutura, mas o processo licitatório tem ritmo próprio.

Segundo os empresários presentes à reunião da ACSP, o maior problema atualmente é equalizar o déficit público.

A dívida pública já equivale a mais de 77% do Produto Interno Bruto (PIB). É consenso entre os empresários que sem a reforma da Previdência não será possível segurar os gastos do governo.

INDÚSTRIA

Dentro desse cenário, a perspectiva do setor industrial é de crescimento de apenas 1% este ano. A confiança do empresário da indústria, que chegou a 64 pontos (acima de 50 pontos denota otimismo pelo indicador da CNI) após a eleição de Bolsonaro,  caiu para 58,4 pontos.

Entre os empresários do setor presentes à reunião de conjuntura a avaliação é que são poucos os caminhos a serem seguidos para mudar a situação.

Para eles, o problema não é a falta de investimento dos empresários porque o setor tem grande capacidade ociosa. O problema está na demanda reprimida.

A avaliação é que a demanda não virá do setor externo. Com a crise se agravando na Argentina, importante parceiro comercial do Brasil, e o preço das commodities em queda, a esperança dos industriais se volta para a demanda interna, que precisaria ser estimulada, na percepção desses empresários.

A situação específica da indústria eletroeletrônica revela um pouco da realidade do setor. No primeiro bimestre, a produção desse segmento recuou 3% em relação a igual período do ano passado.

Também no período, as vendas de celulares caíram 12,3% e de computadores e tablets, recuaram 15%. A perspectiva do segmento eletroeletrônico é de queda de 3% na produção para 2019.

Em parte, o pessimismo do segmento resulta do anúncio do governo de reduzir o Imposto de Importação, que deve ter um impacto negativo na indústria nacional, que passa por um longo período de resultados fracos.

Os resultados positivos são poucos nestes primeiros meses do ano. Com exceção da agroindústria e do varejo de medicamentos, outros ramos da economia não têm muito o que comemorar.

O varejo de medicamentos espera alta de 5,3% nas vendas em 2019. Representantes do segmento estão otimistas com a promessa do governo de liberar os preços de remédios sem receituário.

Serviços também começa a mostrar resultados mais alentadores. O setor, que vinha colecionando resultados negativos, em 12 meses terminados em fevereiro avançou 0,7%.

Fonte: Diário do Comércio