Política de classe e formação de lideranças na classe contábil

Ana Tércia Lopes Rodrigues*

Muito se fala sobre formação de lideranças políticas, profissionais e empresariais. A sociedade está carente de novas lideranças em todos os segmentos. Diante dessa constatação, cabe-nos uma reflexão sobre os motivos dessa escassez de líderes. Como educadora e dirigente classista, me sinto na obrigação de abordar esse tema e abrir no âmbito das Entidades de classe contábil essa discussão, que pode nos levar a ganhos significativos em médio e longo prazo.

Refiro-me ao potencial das entidades de classe em atuar como incubadoras de projetos de formação de lideranças sociais, políticas, empresariais e profissionais. Cidadãos alinhados com as demandas atuais da sociedade e que atuem na vanguarda dos novos paradigmas que ocuparão o centro das discussões em um futuro próximo. Isso se faz com investimentos, mas também  com confiança e coragem.

Coragem para abrir espaço aos jovens profissionais que ingressam nos nossos cursos de Ciências Contábeis; coragem para entender que o estudante é sim um profissional (um embrião de profissional), pois precisamos acreditar que toda semente traz em si uma árvore plena, uma fruta suculenta, uma bela flor. Não adianta estimular lideranças investindo no que já está viciado, fechando as portas ao novo, desconfiando do potencial dos novos profissionais.

A participação dos diferentes segmentos da profissão nas entidades, contemplando a diversidade em todos seus aspectos de gênero, etnias, faixa etária, condição física, opção sexual e religiosa, faz com que a visão se amplie e vislumbre novos rumos que elevem a profissão contábil a estágios cada vez mais avançados de reconhecimento e valorização. Mas afinal “o que é” e “como se faz” política de classe eficiente? Política de classe é mais do que simplesmente gerir uma entidade com toda a complexidade que o termo sugere. Política se faz com representação, com inserção da entidade nos espaços que já estão conquistados, mas, principalmente, na conquista de novos espaços que garantam prestígio e visibilidade.

Profissão forte possui entidades fortes, respeitadas, marcadas por boas gestões, em que as pessoas confiam, que representa em esferas regionais, mas também nacionais e internacionais. O mundo não é mais o quintal da nossa casa. A Contabilidade não é uma ciência isolada nem restrita a esferas geográficas locais. A Contabilidade é internacional e carrega em si toda a responsabilidade que isso significa.

Portanto, não se iludam, colegas. Assim como gerir uma empresa e trabalhar pela sua valorização para que gere retorno aos acionistas, gerir uma entidade de classe requer a utilização eficiente dos recursos sem abandonar a ousadia e a visão de que precisamos estar presentes ocupando todos os espaços em que a contabilidade seja necessária. Você consegue imaginar algum segmento da sociedade em que o profissional de contabilidade seja dispensável?

Do microempreendedor individual a uma grande empresa do mercado de capitais, a Contabilidade é o conhecimento necessário para garantir as informações que orientarão o investimento, decisões gerenciais, concessões de crédito, arrecadações, políticas tributárias e todas as negociações empresariais possíveis. Vamos Continuar ocupando e expandindo os espaços de atuação do contador, dos técnicos em contabilidade, dos estudantes, das organizações contábeis e das entidades de classe, pois, como dizi o ditado: “Quem não é visto não é lembrado”.

*Ana Tércia Lopes Rodrigues é contadora, professora de Ciências Contábeis da UFRGS e vice-presidente de Gestão do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul.

Fonte: Jornal do Comércio RS