Transparência nas contas ainda é aquém do ideal
Mesmo que vários clubes do Brasil possuam orçamentos superiores aos de muitas empresas e cidades, a transparência na prestação de contas ainda está em um nível aquém do ideal. De acordo com ranking elaborado pela Pluri Consultoria, apenas o Corinthians possui uma boa classificação nesse quesito. O levantamento, que analisa 34 times, leva em consideração mais de 30 critérios em relação à publicação das demonstrações financeiras e como essas informações são disponibilizadas ao público.
Por mais que, de um modo geral, falte clareza nos dados fornecidos pelos clubes, é possível notar evolução em relação ao passado. “Aos poucos, o nível de transparência vem melhorando nos grandes clubes. Já nos clubes médios e pequenos, a gente ainda se depara com coisas grotescas, como balanços de cinco linhas”, exemplifica o diretor da Pluri, Fernando Ferreira. Com a Lei Pelé, desde meados dos anos 2000, os clubes passaram a ser obrigados a divulgar seus balanços até o último dia de abril de cada ano. No entanto, a legislação não especifica uma formatação padrão para as demonstrações.
Uma das principais diferenças entre os balanços dos clubes e os de grandes empresas e companhias com capital aberto está na falta de notas explicativas. “As notas são importantes para o melhor entendimento da situação financeira”, aponta a vice-presidente de gestão do Conselho Regional de Contabilidade do Estado (CRCRS), Ana Tércia Lopes. A dirigente também lembra que, por vezes, os times escorregam em alguns conceitos, especialmente ao fazer o registro dos ativos intangíveis. Ana lembra que há casos de clubes que incluíram o valor de marca nesse quesito, algo incompatível com as normas contábeis vigentes.
A falta de transparência pode ser encarada como algo inerente à cultura do futebol brasileiro. “Acredito que isso ainda é resquício da cartolagem dentro dos clubes. Essa demanda por transparência é nova. E há certa limitação dos clubes, em termos de estrutura de gestão, para atender isso”, aponta Ana. Para ela, a tendência é de reversão desse quadro, já que os torcedores demonstram cada vez mais interesse pelo tema e tendem a pressionar por melhorias.
Em alguns países do exterior, a divulgação dos demonstrativos contábeis das equipes é rigidamente controlada. No Chile, o órgão equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira fiscaliza os balanços dos times listados na bolsa de valores. Na Holanda, a própria federação de futebol analisa os dados e classifica as equipes em três níveis, conforme a saúde financeira: ótimo, equilibrado ou em dificuldades.
O gerente de crédito do Itaú BBA, César Grafietti, defende a adoção de um modelo parecido no Brasil. “Seria necessário criar uma estrutura, com profissionais que entendam de finanças, para fazer o acompanhamento dos clubes”, acredita. Além de fazer monitoramento, o órgão também forneceria as diretrizes necessárias para a realização da contabilidade nas agremiações. Atualmente, entre os 23 clubes analisados pelo banco, há cerca de 20 tipos diferentes de balanços.
Fonte: Jornal do Comercio